sábado, 28 de julho de 2012

QUANDO ALGO ESCAPA


Essa semana estava assistindo um programa sobre a chegada de bebês ao mundo e sempre que assisto cenas de parto choro bastante!!Fiquei buscando toda esta emoção para tentar me libertar de vez...mas de fato, acho que jamais vou conseguir esquecer as sensações físicas de trazer um filho ao mundo e sem vida!
Eram 4horas da manhã quando as contrações incomodaram meu sono. Eu decidi deitar na sala para me distrair um pouco da dor e fiquei assistindo ao show do Red Hot Chilli Peppers - Rock in Rio 2001.
Em torno das 8h acordei meu pai dizendo que as dores aconteciam em um curto espaço de tempo. Naquele final de semana meu pai não estaria em casa. Meu avô estava muito doente e teria de se submeter a uma cirurgia, no sábado meu pai estava de malas prontas para visitá-lo.Minha irmã mais velha que acabará de dar a luz a minha pequena sobrinha estava conosco e aconselhou nosso pai a não me deixar sozinha em casa, ela dizia: Pai, e se ela tiver o bebê??Não a deixe sozinha!....enfim nosso teimosão acabou ouvindo os conselhos de minha irmã e ficou comigo.
Meu pai levantou e chamou um táxi para nos levar até a maternidade, eu me lembro de ter perguntado: Pai você acha que eu devo levar a bolsa do bebê?Que pergunta mais idiota, você vai dar a luz....mas ele apenas disse um singelo: - Sim.
Chegamos ao hospital e ficamos aguardando a chegada do meu obstetra, eu sentada em um banco duro ao lado de uma estranha. As dores vinham de tempos em tempos e aquele momento parecia o mais longo de toda eternidade. Quando meu médico chegou, fomos apenas nós dois para sala de pré-parto realizar alguns exames de rotina. Primeiro ele colocou um aparelho que mede os batimentos fetais e depois de insistir muito não ouvia o coração do bebê. Mudou o procedimento para um estetoscópio fetal (daqueles bem antigos tipo de madeira) e soltou a frase: - Não estou conseguindo ouvir o coração do seu bebê! Eu fiquei paralisada, sem conseguir ao menos dar um sussuro. Vamos ter que fazer um exame de toque! E ainda com as mãos dentro do meu útero a segunda frase: - A cabeça do bebê está mole e isso é um péssimo sinal!.........como assim? Eu não reagi, não processei, não me movi ...apenas perguntei: - Não existe chance do bebê estar vivo? e ouvi então um sonoro: Não, quando a cabeça está assim já consideramos óbito a mais de 48 horas............................
Um vazio tomou conta de mim naquele segundo e só pensava no meu pai lá no corredor, ansioso para ver o seu primeiro neto....depois de ter três filhas e a primeira neta também mulher....agora ele teria a chance de ver um moleque correndo pela casa.....Disse apenas duas coisas: Eu quero ver meu pai e Não quero sentir dor.
Quando a médico deu as costas para mim e me deixou sozinha naquela sala, eu não conseguia nem pensar direito....apenas olhava para o teto da sala e via um clarão....tudo branco e vazio! A porta se abriu e já com lágrimas nos olhos meu pai veio até mim em um forte abraço.....abraço sem fim que me fez chorar por alguns instantes.Não me lembro se ele disse alguma coisa, mais o olhar eu jamais esquecerei.
Nos despedimos e eu fui para outra sala me preparar para o parto....eu quis cesária, mas como estava já com os 10 dedos dilatados, o médico me orientou ao parto normal e foi preparar o centro cirúrgico e anestesista para dar fim aos noves que vivi gerando uma vida que se acabou.
Nova sala, uma enfermeira fria que sequer olhou nos meus olhos, me mandou deitar e injetou um soro para induzir as contrações. Ela saiu da sala e ali vivenciei os piores momentos que uma mãe pode imaginar.
Foram apenas três contorcidas para a cabeça do bebê sair e eu sozinha começar a gritar por ajuda, a enfermeira se aproximou lentamente e quando viu o que acontecia correu para chamar o primeiro médico que estivesse por perto. Mais um estranho chega ao meu lado, ela pressionando minha barriga dizendo: - Faça força, você não está ajudando muito! MINHA QUERIDA, ESTOU AQUI EXPULSANDO MEU FILHO MORTO..... e ele saiu e aquele médico e a tal enfermeira deixaram ele entre minhas pernas por  alguns minutos até meu obstetra chegar e ver que  não havia mais nada para ser feito.
Eu não tive coragem de olhar ele nos olhos e nem de pegá-lo em meus braços, apenas levantei o tronco e vi seu perfil........ depois de batizarmos ele no necrotério do hospital, meu pai carregou seu pequenino caixão abraçado (segundo minha irmã mais velha, a cena mais triste que já viu na vida)....e eu 11anos depois não sei dizer porque isso acabou virando uma história paralela vivida por mim...mas não sofrida!!!!
Sei que muita coisa acontece conosco por uma razão....eu não quis saber o porque, apenas virei a página e continuei com as minhas: Lições de Vida.....